Carta Aberta a Sua Excelência o Sr.
Ministro da Educação e Ciência, Professor Doutor Nuno Crato
EXCELÊNCIA,
Somos um grupo de cidadãos, pais e
encarregados de educação de crianças e jovens com Necessidades Educativas
Especiais (NEE), incluídos no sistema regular de ensino e vimos, por este meio,
manifestar a nossa mais profunda indignação face às declarações proferidas por
Vossa Excelência, no passado dia 12 de setembro na estação televisiva SIC, no
que se refere à inclusão dos alunos com Necessidades Educativas Especiais no
ensino regular.
Vossa Excelência, para justificar a
alteração da medida referente à redução de alunos por turma, nos casos em que
integre alunos com NEE (explícita no artigo 19º, nº4 e artigo 20º, nº 3 do
Despacho 5048 - B/2013), disse que "(...) eles [os alunos com NEE]
estão integrados nas turmas, mas não estão (...) pertencem à turma , mas dadas
as suas necessidades, eles na realidade não convivem com os alunos dessa turma
(...) É mais uma questão administrativa (...)".
Neste contexto, muito gostaríamos que
Vossa Excelência ponderasse os seguintes aspetos:
1º Os alunos com NEE não são um grupo homogéneo de alunos pelo
simples facto de apresentarem especiais necessidades educativas. Por isso, não
podem à partida ser considerados como um grupo de alunos fora das suas turmas e
privados do direito à educação, junto dos seus pares.
Se o Senhor Ministro encara com
normalidade a alteração da medida de redução de turma, e o justifica "(...)
eles estão [os alunos com NEE] integrados nas turmas, mas não estão (…)
eles na realidade não convivem com os alunos dessa turma (...). “,
perguntamos: onde crê então Vossa Excelência que os alunos com NEE estejam a
efetuar as suas aprendizagens e a conviver? Qual é a visão que Vossa Excelência
tem da escola para todos e dos direitos à não discriminação? A educação é uma
coisa séria apenas para alguns? E para os outros (alunos com NEE) é um faz de
conta (estão, mas não estão ...), pelo que se podem à partida
acrescentar mais alunos às turmas. De facto, as crianças e jovens, poderão até
não vir a estar como deveriam com os colegas na turma, se não estiverem
reunidas as condições adequadas - nomeadamente uma turma reduzida.
Nós, pais e encarregados de educação,
sabemos que os nossos educandos estão nas salas de aula. Sabemos que há equipas
de pessoas competentes, empenhadas no desenvolvimento máximo dos alunos com
NEE. Mas, também sabemos que há escolas onde faltam recursos e condições
adequadas para responder às necessidades desses alunos. Os jovens e crianças com
NEE têm o direito a uma educação digna junto com os seus pares, que exige
determinadas condições para o efeito e os pais e encarregados de educação, como
cidadãos deste país não abdicarão deste direito! O lugar de todas as
crianças é na escola, que é e deve ser um lugar para todos!
2º Os alunos com NEE apresentam
distintos perfis com necessidades individuais, avaliadas em equipa
(professores, pais, técnicos), cujos objetivos, estratégias, meios e medidas
educativas, se fixam num Programa Educativo Individual (PEI), a rever
periodicamente, dado que este não é um processo estático e os alunos com NEE,
(como todos os outros), com as medidas e o acompanhamento adequado, apresentam
evoluções.
3º A medida de redução ou não de alunos
nas turmas onde estão incluídas crianças com NEE, não é meramente
administrativa. Ao contrário, é uma medida pedagógica de relevo e é
preponderante para se atingirem os objetivos de aprendizagem, responsavelmente
definidos por todos os agentes envolvidos no processo educativo do aluno. Não é
possível contrariar o facto de que, há vantagens pedagógicas quando os alunos,
quaisquer que sejam, frequentam turmas que não excedam os vinte elementos.
É incontestável que os alunos com NEE
obtêm claros e comprovados benefícios a nível de concentração, em turmas
reduzidas até ao máximo de 20 alunos.
Importa esclarecer que, uma parte significativa destes alunos, segue as
matérias definidas nos planos curriculares do ensino regular, e são sujeitos
aos exames nacionais (por imposição da tutela), que realizam na maior parte das
vezes com sucesso. Obviamente que, para que tal seja possível, existem medidas
e adequações ao seu processo de ensino e avaliação. Uma das que a legislação
consagra é a redução de alunos por turma.
Outros alunos, considerando-se que não
lhes é possível atingir a totalidade das metas curriculares previstas, efetuam
o seu percurso escolar com a medida Currículo Especifico Individual (CEI)
prevista no seu PEI, sendo os objetivos, metas e estratégias de aprendizagem,
adequadas ao seu perfil especifico, definidos também por uma equipa de
professores, pais e outros técnicos. Estes alunos podem e devem igualmente, e
conforme o seu caso individual, beneficiar da medida de redução de alunos por
turma, se e quando esta é favorável ao desenvolvimento do seu processo
educativo.
Estes direitos estão previstos e
consagrados na Constituição da República Portuguesa; na Lei da não
discriminação 46/2006; no Decreto de Lei 3/2008 desde logo no seu
preâmbulo; no Despacho 5048-B/2013 e em diversos compromissos
ratificados internacionalmente pelo nosso país, nomeadamente Declaração de
Salamanca, a Convenção dos direitos das pessoas com deficiência, entre
outros.
No reconhecimento de que as politicas
implementadas influenciam, inexoravelmente, as práticas, solicitamos que Vossa
Excelência venha a esclarecer, o que preconiza em termos de políticas de
inclusão e equidade, bem como referir o que significa para a equipa que dirige
“uma escola para todos”, já que para os signatários desta carta e seus
representados, não há qualquer dúvida quanto ao tipo de ensino que queremos e
aceitamos para as crianças e jovens com necessidades educativas especiais.
Atenciosamente,
Albertina Marçal | ABCReal Portugal |
geral@centroabcreal.com
Alexandra Lopes | AMAR21 – Associação de
Apoio à Trissomia 21 | amar21-trissomia21@hotmail.com
Maria Augusta Pereira | APATRIS21 – Associação de Portadores de Trissomia
21 do Algarve | geral@apatris.org
Maria João Ferreira | AVISPT21 –
Associação de Viseu de Portadores de Trissomia 21 | avispt21@gmail.com
Isabel Jorge | Dar Resposta – Associação |
dar.resposta@gmail.com
Cristina Franco | MEPI – Movimento para um
Ensino Público Inclusivo | movimento.epi@gmail.com
Manuela Ralha | Mithós - Histórias Exemplares-
Associação de Apoio à Multideficiência | mithos.associacao@gmail.com
Helena Moura | Olhar 21 - Associação de
Apoio à Inclusão do Cidadão com Trissomia 21 | olhar.vinte.um@gmail.com
Luisa Beltrão | Pais em Rede – Associação
| geral@paisemrede.pt
Marcelina Souschek | Pais 21 – Grupo de
Pais da Associação Portuguesa de Trissomia 21 | geral@pais21.pt
Susana Silva| Vencer Autismo | info@vencerautismo.org
Via FB
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