Ao falarmos em consciência fonológica, referimo-nos à
capacidade metalinguística que permite refletir e analisar de forma consciente
a estrutura fonológica da linguagem oral. Esta capacidade permite manipular e
segmentar a fala em unidades menores, ou seja, a frase pode ser segmentada em
palavras, as palavras em sílabas e as sílabas em fonemas. Cada vez mais a
consciência fonológica e a sua influência na aquisição da leitura e escrita é
tema de grande interesse para os profissionais ligados à educação.
O desenvolvimento da consciência fonológica tem início
na infância, a partir do momento em que a criança começa a ter contacto com a
linguagem oral da sua comunidade. O desenvolvimento é gradual, iniciando-se
pelas unidades maiores da fala, as palavras e sílabas, evoluindo até às
unidades menores, os fonemas. Trata-se de um conhecimento implícito, silencioso
e automático que se evidencia na idade pré-escolar quando as crianças começam a
inventar rimas, a repetir aliterações e a fazer correções ao seu próprio discurso.
O aprimoramento e pleno desenvolvimento da consciência
fonológica, ocorre com a exposição formal ao sistema alfabético e
consequentemente com a aquisição da leitura e escrita.
A consciência fonológica subdivide-se em três tipo, a
consciência de sílaba, a consciência intrassilábia e a consciência fonémica. A
consciência silábica é a primeira forma de reflexão da linguagem oral, surgindo
na idade pré-escolar. Consiste na capacidade de identificar e manipular as
sílabas de uma palavra (como por exemplo: pra . tos).A consciência
intrassilábia surge por volta dos cinco/seis anos, depois de adquirida a
consciência silábica. Esta permite identificar e manipular as unidades que
formam internamente a sílaba (como por exemplo: pr . a – to.s). A consciência
fonémica é a ultima a ser adquirida, surgindo com a aprendizagem da leitura e
escrita. Refere-se à capacidade de analisar as palavras ao nível do fonema
(como por exemplo: p.r.a.t.o.s).
O bom domínio da consciência fonológica constitui uma
das bases mais importantes para a aprendizagem da leitura e da escrita. Ao
contrário da aquisição da linguagem oral que acontece de forma natural, a
aquisição da leitura e da escrita requer um processo formal de ensino, exigindo
que as crianças tenham a capacidade de analisar, explicitamente as unidades da
fala, nomeadamente as palavras, sílabas e fonemas. O domínio do código escrito
implica também que a criança consiga dirigir a atenção para a estrutura
fonológica da linguagem oral, ao ponto de conseguir fazer a correspondência
entre as unidades mínimas da linguagem oral (o fonema) e os grafemas (letras),
De acordo com vários autores existe uma relação
recíproca e interativa entre a consciência fonológica e a aprendizagem da
leitura e da escrita, considerando-se que níveis elementares da consciência
fonológica promovem o desenvolvimento de níveis elementares de leitura e de
escrita. Contudo o desenvolvimento da consciência fonológica nem sempre é
linear, devido às variáveis intervenientes, tais como: o meio ambiente,
estimulação, capacidades cognitivas e exposição formal ao sistema alfabético.
Para diminuir a incidência destas variáveis é de
extrema importância que a consciência fonológica seja trabalhada no
jardim-de-infância, ao nível da palavra, sílaba e rima. Com a entrada para o
primeiro ciclo do ensino básico o treino deve ser continuado de forma gradual
ate à consciência fonémica.
A consciência silábica, mais especificamente a
capacidade de segmentação e manipulação silábica, são essenciais para o sucesso
da aprendizagem da leitura e escrita, devendo estar consolidadas na entrada
para o primeiro ciclo.
Em suma, o domínio da consciência fonológica é
essencial na aprendizagem da leitura e da escrita, pelo que a implementação de
estratégias promotoras desta capacidade é fundamental, tanto em contexto de
jardim-de-infância como nas escolas de primeiro ciclo.
Fonte: Clínica da Educação
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