Um casal de músicos cegos do Mali
vai estar em Lisboa para um concerto que promete ser inolvidável: vai decorrer
na total escuridão, sem luzes ou focos no palco ou fora dele. A intenção de
Amadou & Mariam, invisuais desde muito novos, passa por tentar que a
assistência absorva a música da mesma forma que eles a ouvem e sentem. "Se
não consegues ver, a tua perceção do som é mais apurada", afirmou Amad Bagayoko, cantor de 58 anos cego desde os 16.
O espetáculo intitula-se "Eclipse" e terá lugar no Grande Auditório
da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, a 18 de Novembro, um domingo, às 19
horas. Prevê-se uma experiência sensorial assinalável. Até as luzes de
"saída de emergência" estarão apagadas. Além da ausência de qualquer
luz, os nossos sentidos serão exacerbados com a propagação de aromas no ar.
Consta que a sala será perfumada com um odor que recria o cheiro a terra quente
de Bamako, a capital do Mali. Mais ainda: a perceção da temperatura ambiente
também vai oscilar entre 15 e 30 graus celsius.
É claro que um espetáculo desta natureza acarreta medidas excecionais. Por
exemplo, toda a equipa de sala vai estar equipada com um sistema de visão
noturna. "Em caso de emergência, desconforto, indisposição ou
desorientação que provoque a necessidade de sair da sala, deverá o espetador
agitar o programa no ar. Um assistente irá imediatamente ao seu encontro e
prestará o auxílio necessário", lê-se no site da Fundação. Além disso, e
"para garantir o êxito do espetáculo", afigura-se obrigatório
respeitar determinadas regras: sacos, malas e casacos devem ser deixados no
bengaleiro; "todos os equipamentos passíveis de emitir luz, som ou
vibração (telemóveis, relógios, etc.) deverão estar desligados e é
absolutamente proibido "qualquer dispositivo de gravação vídeo ou
som". Após o início do concerto, não será possível a entrada ou reentrada
na sala.
"Eclipse" terá a duração de 75 minutos e apresentará um repertório
que pretende contar o trajeto de vida e obra da dupla. Com mais seis músicos em
palco (entre os quais, Mamadou Diabaté, primo
do magnífico Toumani Diabaté), não vão faltar as canções mais emblemáticas, que
na última década têm conquistado fãs em todo o planeta. Amadou & Mariam são
das mais entusiasmantes propostas do continente africano e já colaboraram
com nomes como Manu Chao ou Damon Albarn, dos Blur. Fazem uma espécie de pop
colorida e soalheira temperada com ritmos tradicionais do Mali e aberta a
ramificações várias.
Fonte: Jornal de Notícias
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